quarta-feira, 8 de junho de 2011

O Segredo de Afonso III (Maria Antonieta Costa)

Maria Antonieta Costa, professora de História, em Famalicão, afirmou que o projecto de escrever O Segredo de Afonso III surgiu de uma vontade de aproximar jovens e adultos da História portuguesa. Esse repto que lançou a si própria surgiu-lhe quando realizava o mestrado em “História da Cultura Medieval”. Nas suas próprias palavras: “procurei urdir uma trama com
carácter de thriller que mostrasse um outro lado possível de Afonso III”.
Todavia não devemos pensar que este livro foi abordado com ligeireza ou qualquer tipo de desprendimento, a própria autora salienta o facto que “a investigação rigorosa é imprescindível para qualquer romance sério”, apoiando-se na investigação que havia feito para a sua tese, tendo lido mais de um milhar de documentos para o efeito.
Fascinada pela figura de D. Afonso III que considera como “um monarca que passa injustamente despercebido, pois foi ele que fixou as fronteiras continentais em 1249 e que ainda hoje se mantêm, um notável administrador e, depois de D. Afonso Henriques, foi quem fez os alicerces do país. Um rei que fundou povoações, restaurou outras, e teve a preocupação do povoamento”.
A obra é construída a partir da tese de conflituosidade visceral entre o rei e a Igreja, mesmo apesar de esta ter patrocinado a sua ascensão ao trono de Portugal.
É neste mundo profundamente medieval e feudal que a obra tem corpo ainda que, formalmente, seja construída numa série de analepses entre o século XXI, a ascensão e coroação ao trono do jovem rei Dinis, e o reinado do seu pai e predecessor Afonso III.
Trata-se essencialmente de um thriller em que acção domina a descrição, tecida em volta do ocultismo, crimes, conspirações, sociedades secretas e até mesmo homossexualidade. Somos presenteados com um amplo leque de figuras históricas reais, bem como a própria geografia de espaços da obra torna-se particularmente cativante já que todos os locais são visitáveis ou evocam algo na memória de cada um de nós.
Possivelmente pelo facto da autora ser uma historiadora (membro da Sociedade Portuguesa de Estudos Medievais) é notória a preocupação que ela tem em distinguir a parte real da parte ficcional. “Há que saber discernir o que é realidade histórica, e eu tenho-a no meu livro, daquilo o que é ficção, e daí ter incluído uma introdução em que previno o leitor para esta situação. Coloquei no final um quadro cronológico que estabelece a relação entre a ficção e a realidade para que os leitores possam fazer um confronto”.
Essencialmente temos duas narrativas que parecem correr paralelamente, a de Madragana ben Ekar, a concubina moura do rei, que desperta muitos ódios na mesma medida que parece cativar aqueles que a rodeiam, e a de Eunice Bacelar, uma investigadora do século XXI que descobre, por casualidade, no Vaticano, uma misteriosa mensagem referindo-se a esta concubina, um escravo, um alquimista e o único Papa português, João XXI.
Inicialmente temos a sensação de estarmos a ler duas histórias paralelas, em que a segunda apenas surge para alimentar a primeira, usando até mesmo como contraponto ritmos de escrita diferentes, mas, à medida que o romance vai atingindo o seu clímax, se interceptam, num determinado ponto, e se vão entrelaçando, adensando-se em intrigas cada vez maiores e surpreendendo-nos com a ligação entre ambas. Uma das poucas tibiezas será o facto de inicialmente algumas ligações parecerem ser demasiadamente fortuitas, precipitadas, mas trata-se apenas do modo em que nos são apresentadas, pois é-nos mais tarde revelado a sua pertinência e como foram construídas.
É uma obra que parecer ter tudo para atrair até si e seduzir especialmente aqueles que têm alguma curiosidade pela história portuguesa, mas que não desiludirá os fãs de thriller em geral.




Autor: Maria Antonieta Costa


Editora: Clube do Autor


Páginas: 312


Género: Romance Histórico/Thriller

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